quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Camille Claudel

Bruno Dumont é um cineasta muito particular no cinema atual. Autor de obras áridas e silenciosas, ele tem procurado adotar uma estética minimalista, sem ornamentos. Em filmes como A HumanidadeO Pecado de Hadewijch e Fora de Satã, a natureza e a religião são os temas centrais, e funcionam como principais portas de entrada para uma arte em busca de transcendência. As imagens são longas, lentas, acompanhando personagens em suas travessias existenciais por espaços vazios.

Foto - FILM - Camille Claudel 1915 : 196715Uma biografia sobre Camille Claudel não parecia uma escolha óbvia para se encaixar nessa ideologia. A escultora francesa já ganhou filmes mais convencionais, com retratos românticos e idealizados, mas Dumont prefere ocultar qualquer elemento explicativo da trama. Não se mostra a vida de Camille antes de ser internada pelos familiares em um manicômio, não se aprofunda nas relações familiares conflituosas, não se esclarece os conflitos entre a personagem e seu amante temperamental, o também escultor Auguste Rodin. O título pode sugerir a exposição de uma figura histórica, mas a inclusão do ano 1915 ajuda a compreender que este é um recorte temporal preciso, e não o retrato de uma vida inteira.

Sem os fatos nem as reviravoltas, o que instiga o olhar de Dumont é o estado de espírito desta mulher. SolicitandoJuliette Binoche para o papel principal (algo raro para um cineasta que prefere trabalhar com amadores), o diretor cola sua câmera no rosto da atriz, nas suas mãos, no seu corpo. Este é um filme exigente com a composição da personagem, e Binoche parece uma escolha ideal para tamanha entrega. Ela poderia chorar e gritar desesperadamente, como tinha feito Isabelle Adjani na outra cinebiografia citada acima, mas o roteiro de Camille Claudel 1915 prefere as transformações íntimas às explosões emotivas.

Foto - FILM - Camille Claudel 1915 : 196715Assim, a câmera passeia com a sua personagem pelos corredores da instituição, dentro do quarto, no jardim. A impressão de cansaço de Camille nasce da construção estética (a repetição de planos, a ausência de conflitos), e nunca de um simples diálogo expositivo. Algumas cenas são espetaculares, quando a protagonista confronta seu médico, por exemplo, tentando explicar sua paranoia (mas sem parecer louca), ou quando esperar a chegada do irmão, para convencê-lo de que está sã, e que pode finalmente sair dessa prisão. A câmera deixa Binoche usar o tempo que quiser para falar, se calar, hesitar, repetir, olhar para o horizonte. Os instantes que seriam cortados na sala de edição de filmes tradicionais são precisamente aqueles reunidos para compor esta obra.

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-196715/criticas-adorocinema/

Enquanto isso, Dumont constrói uma noção de religiosidade marcada pela calma e ausência de julgamentos. O sermão austero do irmão de Camille e a loucura agravada de suas colegas servem para construir a atmosfera de solidão. Embora seja um filme lento, que não vai saciar todos os gostos, Camille Claudel, 1915 acredita que a profundidade dos personagens se constrói com o tempo, com a luz e os enquadramentos, de maneira plástica ao invés de narrativa. É um cinema duro, hermético, mas muito recompensador pela maneira como busca compreender, com pouquíssimos elementos, temas fundamentais como o amor, a tristeza, a piedade e a fé.

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