domingo, 4 de agosto de 2013

A rede social

Quando o projeto de A Rede Social foi anunciado pela primeira vez todos resumiram o filme como "a história por trás do Facebook" e é provável que tal alcunha continue com grande espaço na mídia e no boca a boca dos que assistirem ao longa.

Mas a produção é muito mais do que isso, vai muito além dos bastidores do surgimento da rede social mais famosa do mundo.

O filme também não é sobre a total falta de traquejo social do protagonista, por mais que isso seja essencial para compreendermos o mesmo. E também não busca debater se o criador do Facebook seria um babaca ou não, ainda que a questão esteja presente no início e no final da produção.

A Rede Social é, na verdade, um filme sobre a complexidade do ser humano, sobre como este pode ser ao mesmo tempo inocente, calculista, indiferente e apaixonado. Sobre como a vida de uma pessoa pode cair em um caminho errado por mais que profissionalmente apareça como um Rei Midas, em que tudo o que toca se transforma em ouro.

Se recuperando daquele que ao lado de O Quarto do Pânico talvez seja seu filme menos interessante, O Curioso Caso de Benjamin Button (ignoro por completo a existência de Alien 3 na vida do cineasta), David Fincher volta a realizar um trabalho primoroso.

O nível alcançado volta a ser aquele de Seven - Os Sete Crimes CapitaisClube da Luta e Zodíaco, e isso ocorre até pelos mesmos motivos. Apesar de aparentarem serem filmes absolutamente diferentes, os quatro tem em comum o estudo do ser humano. E quase como um antropólogo, o diretor comprova a capacidade de analisar o homem, seja ele um assassino em série, um repórter policial ou um nerd.

A comparação com o campo da antropologia obviamente não deve ser esmiuçada, mas não deixa de ser interessante ver que o cineasta, assim como profissionais da referida área, não se preocupa em julgar o assunto estudado. Assim, veremos que o personagem principal não é nem demonizado nem endeusado.

A história de Mark Zuckerberg, gênio por trás da criação do Facebook, é repleta de características fáceis de serem estereotipadas. O diretor, entretanto, consegue evitar que isso aconteça, relatando os momentos de genialidade, loucura e babaquice do indivíduo de forma natural e convincente. Para isso contou com a ajuda do ótimo Jesse Eisenberg. O ator, que já havia se destacado na comédia Zumbilândia, brilha ao dar vida ao jovem bilionário.

Contando com uma das melhores taglines vistas nos cinemas nos últimos anos ("Você não consegue 500 milhões de amigos sem fazer alguns inimigos"), o longa é extremamente verossímil e tão natural que em alguns momentos nos faz esquecer que se trata de uma obra de ficção, que inclusive não contou com nenhum apoio por parte dos agentes reais da história.

Fincher comprovou mais uma vez sua capacidade na seleção de um elenco. Além do supramencionado Eisenberg,Andrew Garfield e Justin Timberlake também foram escolhas acertadas. Novo intérprete do Homem-Aranha, Garfield dá show no papel do brasileiro Eduardo Saverin, (ex) melhor amigo de Zuckerberg e co-fundado do Facebook, enquanto que o ícone pop prova mais uma vez que sua empreitada pela sétima arte é muito mais que uma brincadeira. Timberlake está ótimo como o outro gênio precoce da turma, Sean Parker, fundador do Napster que começa a dar pitacos no dia a dia da rede social.

Merecem destaque ainda a trilha sonora da dupla Trent Reznor e Atticus Ross, e a fotografia de Jeff Cronenweth, que já havia trabalhado com o diretor em Clube da Luta

Adaptação do livro "Os Bilionários Acidentais", de Ben Mezrich, o filme tem como virtude o fato de não tomar tudo o que está no mesmo como verdade, a começar pela ideia de que tudo não passou de um acidente, de uma obra do acaso. Como o longa mostra muito bem, a criação do Facebook não foi algo simples ou mal pensado.

The Social Network (no original) é um dos melhores filmes de 2010 e merece ser conferido com atenção por retratar como um sujeito nada social foi capaz de criar a maior comunidade social da internet. O segredo parece tratar tudo (e todos) como fatores ou como peões em um tabuleiro, mas é muito menos simples do que isso, sendo provável que cada um saia com sua conclusão da sala de cinema.

David Fincher parte agora para sua versão de Os Homens Que Não Amavam as Mulheres. Quem estiver na expectativa pelo filme preste atenção na jovem Rooney Mara. A atriz interpreta a namorada de Zuckerberg no início da produção e dará vida à Lisbeth Salander, personagem principal do mencionado filme.
2,5
UMA TEIA CHEIA DE IMPUREZAS
De Roberto Cunha
Sabe aqueles filmes que começam mal pacas? Acredite. A Rede Social começa de forma impecavelmente chata, talvez, para mostrar o quão controversa é a figura de Mark Zuckerberg, criador do Facebook, um fenômeno da internet. Será?

E o mais interessante no blábláblá entediante entre Mark (Jesse Eisenberg) e Erica (Rooney Mara) é a observação dela sobre o amigo, futuro desafeto, e as consequências disso no mundo virtual: "Você não ganha garotas porque é um babaca, e não por ser um nerd".

A história começa na famigerada Harvard, em 2003, de onde Zuckerberg, irritado com o fora que levou, começa a hackear álbuns de outras universidades, provocando entre os estudantes a vontade de comparar fotos de fulano, beltrano e cicrano. E junto com seu companheiro de primeiras horas, o brasileiro Eduardo Saverin (Andrew Garfield), descobre que o pulo do gato é para quem os usuários vão mandar o que pensam, as ideias, comparações, o que fosse. Ou seja, com quem dividir.

Apesar de contada entre idas e vindas no tempo, o roteiroa tem um ritmo crescente e vai conectando o espectador, a cada instante, no universo daqueles jovens brilhantes que revolucionaram, a sua maneira, as relações humanas neste início de século 21.

Assim, as constantes sequências na mesa de conciliação com advogados, réu e reclamantes não incomodam e, pelo contrário, servem para você se enfronhar na imensa teia cheia de impurezas como traição, inveja, megalomania e ódio. Porque queira ou não, você vai descobrir que essa é, na verdade, a essência da ferramenta de rede social mais popular da atualidade.

Para a turma que adora se ligar nas curiosidades, o pouco caso com a figura de Bill Gates é emblemática, assim como o contato deles com ninguém menos do que Sean Parker (Justin Timberlake), criador do lendário Napster, programa de troca de arquivos que virou de cabeça para baixo a indústria da música.

Sobre a trilha sonora de Trent Reznor, do extinto Nine Inch Nails, destacam-se duas passagens eletrônicas, claro, que lembram muito o lendário Rick Wakeman e Robert Miles, que estourou no fim dos anos  90 com o hit "Children".

Embora seja baseado no livro "Bilionários Por Acaso", o que se vê na tela grande é que o sucesso e o dinheiro, não necessariamente nessa ordem, não são bem um fruto do acaso. E um dos lances mais legais do filme, bem dirigido por David Fincher (Seven), é mostrar que a obsessão do doido em criar uma ferramenta que estabelecesse um elo entre as pessoas, mesmo que superficial, foi responsável por desfazer a única união verdadeira (de amizade) que ele tinha no mundo real.

Bem vindo ao mundo das relações virtuais. Assista o trailer em A Rede Social.

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